Deadpool & Wolverine já ultrapassou 1,3 bilhão de dólares de bilheteria mundial, marca que o torna um dos maiores sucessos comerciais do cinema de todos os tempos.
É ainda mais impressionante se levarmos em conta que o filme é péssimo.
Talvez seja melhor imaginar o que Universo Cinematográfico Marvel foi um experimento que durou 11 anos, começando em 2008, com Homem de Ferro, e terminando em 2019, com Vingadores: Ultimato. Tudo que veio depois tem uma qualidade bem mais baixa, e isso é até comentado pelo próprio Deadpool no novo filme — irônico, considerando que este é de longe o pior produto do mcu até agora.
O filme foi feito para que Wolverine pudesse aparecer. A “história” é qualquer coisa montada nas coxas que permita que isso aconteça. Naturalmente, o conceito chave é o tal multiverso, que liberta os roteiristas das pueris amarras da coerência, da consistência e da lógica.
Deadpool descobre que seu universo está em perigo, devido ao fato de Wolverine ter morrido no filme Logan, de 2017. Por que a morte de uma pessoa põe em risco o universo, ninguém diz nem é perguntado. Ele é contactado por um personagem aleatório e mal explicado chamado Paradox (sim, esse é o nome dele), que o manda em busca de um outro Wolverine, de outro universo (pela lógica, esse outro universo deveria então correr perigo, mas esse ponto não é levantado). Pronto, está dada a tosca justificativa para a grande aparição.
Luta vai, luta vem, eles vão parar num lugar ermo, espécie de purgatório, onde estão vários personagens da Marvel usados fora do mcu. Mais um monte de luta, efeitos gráficos e participações especiais, sem nem sombra de arco dramático. Uma terrível vilã é introduzida, mas não espere que ela seja interessante. Morre um monte de gente sem que isso desperte no espectador o menor interesse. Eles dão um jeito de sair dali e voltar para um mundo normal, onde então precisam lutar contra um exército de Deadpools surgido sabe-se lá de onde e que depois não são mais mencionados.
No ato final, os dois se sacrificam para evitar a destruição do universo, claro. Só que nem o sacrifício é de verdade. Saem ilesos e fazendo piada.
Resumindo, o filme é um simulacro. Uma embalagem sem nada dentro. Adamantium de isopor. Parece uma história, mas não é. Não tem personagens, não tem drama, não tem dilemas, não tem comédia, não tem heroísmo, não tem absolutamente nada. Só tem piadas autoreferentes, que prendem o espectador numa cela com paredes espelhadas, onde ele só vê reflexos de reflexos e só ouve ecos de ecos.
Começaram com paródias de coisas concretas, depois paródias de conceitos, depois paródias de paródias, e agora temos algo que tenta parodiar a si mesmo no próprio ato de existir, e que acaba por se autoaniquilar, desaparecendo instantaneamente, não com um estrondo, mas com um gemido. E quem geme é o espectador.