Difícil assistir o mais recente Missão Impossível. Desde o começo, o principal nesse filmes era a ação, claro. As explosões, os malabarismos, etc. Mas havia uma história. Ao longo da franquia, o enredo foi ficando cada vez menos relevante, e agora parece que ninguém da produção nem se importa mais com isso.
A pressa é tanta que já começa assim:
Olha, o objeto que temos que encontrar é uma chave (?). Não temos ideia do que ela abre, mas sabemos que ela é muito importante (?). Outras pessoas querem a chave, não sabemos quem são, mas são muito perigosos (?). Descobrimos que um deles vai estar neste avião (?). A mulher que você achava que estava morta na verdade está viva, num oásis no deserto do Saara (?)
Todo esse atropelo incompreensível em questão de minutos.
É claro que o filme tem de começar de algum lugar, não dá para remontar às musas, esclarecer tudo, sempre é necessário aceitar alguma premissa. Olha, estamos com esse problema, não dá para explicar como chegamos aqui, a questão é como vamos sair. Tudo bem. O espectador aceita. Aceita até ser jogado no meio da ação de forma confusa, desde que aos poucos as coisas se esclareçam.
Mas eles não vieram para esclarecer, vieram para confundir. Os personagens simplesmente sabem as coisas do nada, nem sequer tentam dar explicações. Do seu laptop, o carinha acessa as imagens em tempo real de qualquer câmera do planeta. A tecnologia é tratada como mágica. O sujeito diz pelo fone: "fulano saiu do prédio, me diga onde ele está". E o outro acessa um satélite secreto, hackeia seu sistema super avançado, filma centenas de pessoas lá do espaço, roda um programa de reconhecimento facial, detecta o suspeito e rastreia sua posição, tudo isso em questão de segundos.
Ethan Hunt é um mega-espião de habilidades super-humanas, e no entanto qualquer um lhe bate a carteira quando quer. Os objetos trocam de bolso o tempo inteiro sem que ninguém se dê conta de nada, o superagente da cena anterior de repente é o patolino com uma dinamite na orelha. Todos se fazem uns aos outros de trouxa o tempo todo, mas o único trouxa de verdade é… adivinhe.
Não é nem que haja furos de roteiro. É que o roteiro consiste numa sucessão de cenas que, individualmente, são visualmente impactantes, mas que não contam uma história. É um emaranhado de vazios, como uma teia de aranha.
Verdade, e parece que quanto mais dinheiro envolvido numa produção de cinema, maior a chance do enredo deste filme ser fraco. Negócio triste.