Hoje começa a pré-venda do meu novo romance, O Fio da Faca, publicado pela Patuá.
Link para o site deles aqui.
A sinopse é a seguinte:
Depois de vinte anos, a jornalista Rebeca Sampaio retorna à sua cidade natal, no interior de São Paulo, enviada por seu editor para uma reportagem sensacionalista sobre um caso de violência sexual que está gerando revolta e confundindo sensibilidades: a vítima uma jovem branca e o acusado um jovem negro. Em meio aos conflitantes pontos de vista que emergem das entrevistas que conduz, ela reencontra amigas de infância e também sua mãe e sua irmã. Esses encontros acabam produzindo revelações, à luz das quais Rebeca vai reavaliar a própria vida e principalmente a imagem que tinha de seu pai, já falecido. O relutante enfrentamento do passado revive mágoas, mas pode trazer, talvez, redenção.
O texto de orelha foi escrito por Maria Fernanda Elias Maglio, e pode ser lido no site dedicado ao livro, O Fio da Faca.
Logo abaixo, reproduzo o primeiro capítulo, como aperitivo.
Capítulo 1
A música está alta, se eu quiser que alguém me ouça preciso chegar bem perto e gritar dentro da orelha. Mas não quero falar. Estou dançando, tenho os olhos fechados e os braços abertos. Pessoas encostadas na parede me observam, posso sentir seu olhar em cima de mim. De vez em quando, ao girar o corpo, aproveito para espiar discretamente, tentando distinguir os vultos na sala escura.
A certa altura, ele aparece e me leva pela mão até a cozinha, onde o som é um pouco mais baixo.
— Está gostando da festa?
— Muito — respondo, sorrindo. Estou realmente gostando. Da bebida, da música, dos beijos.
Ele abre a geladeira, pega duas latas de cerveja e me passa uma delas. Frente a frente, damos longos goles. Ele se inclina e me beija com força, me abraçando com uma das mãos. Gosto de perceber a excitação dele. Sua mão desliza pelas minhas costas, descendo em direção à minha bunda.
Desprendo-me do abraço e volto para a sala. Quero dançar. Ainda não é hora de parar de dançar. Ele me acompanha até lá, mas prefere ficar assistindo, imóvel. Entrego a ele minha latinha, fecho os olhos de novo e me deixo levar pela música. Os outros evitam me encarar diretamente, agora que ele está ali.
Não sei quanto tempo fico dançando. Em alguns momentos, quando toca alguma coisa mais lenta, ele parece sentir minha falta e vem até mim. Dançamos juntos e nos abraçamos.
Abro os olhos quando alguém pega minha mão. Agora é minha amiga quem me puxa, dando risada. Não entendo o que ela quer, faço cara de interrogação. Ela se aproxima e seus lábios roçam minha orelha, num arrepio:
— Vem comigo!
Imagino que vá me levar aonde estão fumando aqueles cigarrinhos fedorentos. Enquanto dou os primeiros passos já começo a balbuciar meu pedido de desculpas, obrigada, não quero, prefiro dançar, dançar e beber, beber e dançar e beijar.
Mas não é isso, não estamos indo para o jardim e sim para dentro da casa, passamos pelo corredor, será que estamos indo ao banheiro, mas não, acabamos entrando em um dos quartos. Ele está lá dentro, junto com o namorado da minha amiga, e me abraça quando eu entro.
Ela percebe minha cara de quem não está entendendo nada.
— O Sérgio quer mostrar a guitarra nova dele — explica.
Sorrio para Sérgio e aguardo enquanto ele pega a guitarra. É bonita mesmo, toda preta e reluzente. Não entendo de guitarras, não me importo com elas e não tenho nada a dizer. Ele liga o amplificador e toca alguns acordes, que acompanha com pose e caretas de profissional.
— Minha futura estrela do rock - diz minha amiga, e se atraca com ele. Desajeitadamente, Sérgio coloca o instrumento no chão enquanto os dois tropeçam em direção à cama. Esqueceram-se de que estamos ali, depois daquela demonstração que teve ao menos a qualidade de ser breve.
Saímos do quarto e fechamos a porta, dando privacidade aos outros dois e rindo da situação. No corredor, ele termina sua cerveja, amassa a lata e, apoiados na parede, nos beijamos longamente. Logo estamos tropeçando em direção ao outro quarto, cuja porta ele fecha com o pé sem interromper o beijo.
Na última vez em que saímos juntos, ficamos dentro do carro na porta da minha casa. Não o convidei para entrar. O carro era desconfortável, o contorcionismo necessário atrapalhava nossos movimentos, mas acabamos encontrando uma posição e deixei que ele me apalpasse os seios por cima da camiseta. Fiquei com um pouco de pena depois que desci e entrei em casa, ele tinha ido embora frustrado.
Só que agora as coisas estão indo muito rápido, estamos sozinhos no quarto, a cama está logo ali, a porta está fechada. Não era esse o meu plano. Quero dançar.
— Vamos voltar para a sala.
Ele nem responde. Não parece ter me ouvido. Está arfando. Caminha em direção à cama e seu corpo não me dá espaço. Tenho que andar de costas até que minhas pernas encostam no colchão e eu me sento, desajeitada. Ele tira a camiseta com um movimento rápido e se ajeita ao meu lado.
É óbvio que não pretende se limitar a me alisar por cima do tecido. Até onde estou disposta a ir? Não sei. Quero insistir para voltarmos à sala, mas fazer isso seria arrumar briga, cortar o clima e acabar com a noite. Tenho direito de fazer isso? Depois de todo aquele amasso no carro, ele não está certo em esperar um pouco mais da noite de hoje? Já não me fiz de difícil o suficiente?
Ele tenta deslizar as alças do meu vestido pelos braços, mas não consegue. São muito curtas e não passam pelo ombros. Enquanto me beija, sua atenção está nas minhas costas, que seus dedos apalpam à procura do zíper. Tento ondular o corpo, atrapalhando seu esforço.
— Não... não...
Ele continua sem responder nada. Avança o corpo sobre mim e seu peso me obriga a deitar. Minha boca foge da boca dele, que então me beija o pescoço. Digo o nome dele, tentando despertá-lo daquele transe. Ele não responde, apenas resfolega junto ao meu pescoço como um animal. Penso em gritar. Lembro da minha amiga no quarto ao lado. Foi ela quem me trouxe até aqui. Ela me levou até o quarto... Mostrar a guitarra coisa nenhuma, aquilo tinha sido combinado. Deve ter achado que estava me dando uma oportunidade, ajudando um casal que buscava uma chance de finalmente ficarem sozinhos.
Se eu gritar, será que ela me ouve? Se me ouvir, será que vem até aqui? Deve estar muito ocupada transando com o namorado para ouvir o que quer que seja. Talvez eu devesse fazer o mesmo. Estou hesitando por que, afinal? Não sou virgem. Gosto dele. Já estamos aqui.
Agora que estou deitada de costas, ficou ainda mais difícil acessar o zíper nas costas. Ele desiste desse objetivo e suas mãos passeiam pelas minhas pernas. Mas não é uma carícia, é um sequência de apertos. Com um puxão, faz minha saia subir acima dos joelhos.
— Para...
Mas ele não para. Empurra a saia ainda mais para cima. Penso novamente se devo gritar. Causar um escândalo? O que as pessoas pensariam se viessem correndo e nos encontrassem naquela situação? Diriam que a bêbada está fazendo cena, que provoca e não quer dar, perguntariam o que eu achava que ia acontecer quando entrei neste quarto e fechei a porta.
— Para...
Ele não para. Tento me debater, me contorço como posso, mas o peso do corpo dele impede que eu me mexa muito. Suas mãos deixam minhas pernas e se dedicam às próprias calças. Com esse zíper ele não tem nenhuma dificuldade. Em seguida, abaixa minha calcinha e avança sobre mim.
Oh, meu Deus.
Estou sendo estuprada.